Saberes y prácticas. Revista de Filosofía y Educación, ISSN 2525-2089

Prática pedagógica de professores
que ensinam matemática para alunos surdos

Práctica pedagógica de maestros que enseñan matemáticas a estudiantes sordos

 Pedagogical practice of teachers teaching mathematics to deaf students

Rosenida Rocha Bueno Rose

Universidade Estadual Paulista, Brasil.

roserbueno@hotmail.com

Recibido: 27/05/2020

Aceptado: 10/12/2020

DOI: https://doi.org/10.48162/rev.36.001


Resumo. O artigo socializa os resultados de uma pesquisa concluída em 2019 que teve como objetivo investigar a prática pedagógica de professores que ensinam Matemática para alunos surdos do Ensino Médio de uma Escola da Rede Estadual de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Portanto foi necessário: identificar as concepções dos professores sobre a prática pedagógica; descrever a compreensão dos professores sobre a aprendizagem dos alunos surdos; evidenciar quais procedimentos metodológicos os docentes utilizavam para ensinar aos alunos surdos. Destacam- se, as contribuições de: Dorziat (2004), Libâneo (2001), Sacristán e Pérez (2009), Skliar (2000, 2001, 2013), Bogdan e Biklen (1994). A abordagem é qualitativa, e caracteriza-se como um estudo de caso do tipo exploratório, por ser descritiva- interpretativa, na qual utilizou-se: análise documental do Projeto Político Pedagógico (PPP), planejamento anual de Matemática e plano de aula, entrevista semiestruturada e observação participante. Os resultados indicam que, o desenvolvimento da prática pedagógica dos professores desses alunos surdos não possibilita a reflexão crítica e inserção dos mesmos na prática social e evidenciou a importância do desenvolvimento de uma Prática Pedagógica Bilíngue (PPB) no ensino de Matemática para alunos surdos.

Palavras-chave. Prática pedagógica, Ensino da Matemática, Surdez, Educação inclusiva.

Resumen. El artículo indaga en la práctica pedagógica de los maestros que enseñan Matemáticas a estudiantes sordos de secundaria, en una escuela del estado de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, durante el año 2019. De este modo, fue necesario identificar las concepciones que tienen los docentes sobre la práctica pedagógica; describir dicha práctica a partir de comprender el aprendizaje de los estudiantes sordos; y evidenciar las metodologías de enseñanza que se usan con los educandos en mención. Así pues, se destacan aportes significativos de autores, tales como, Dorziat (2004), Libâneo (2001), Sacristán y Pérez (2009), Skliar (2000, 2001, 2013), Bogdan y Biklen (1994). La investigación es cualitativa y se apoya en un estudio de caso exploratorio, ya que es descriptiva e interpretativa. Para la recolección de información se utilizó: análisis documental del Proyecto Político Pedagógico (PPP), el Plan de Matemática anual y el currículo académico, entrevistas semiestructuradas y la observación participante. Los resultados indicaron que, el desarrollo de la práctica pedagógica de los docentes con estudiantes sordos, no permite la reflexión crítica y la inserción de los mismos en la práctica social. Por tanto, se evidencia la importancia de desarrollar una Práctica Pedagógica Bilingüe (PPB) en la enseñanza de las Matemáticas para estudiantes sordos.

Palabras clave. Práctica pedagógica, Enseñanza de las Matemáticas, Sordos, Educación inclusiva.

Abstract. This article socializes the results about the pedagogical practice of teachers who teach mathematics to deaf high school students in 2019 in the State of Cuiabá, Mato Grosso, Brazil. For that reason, it was established: to identify teachers' conceptions of pedagogical practice; describe teachers 'understanding of deaf students' learning and methodologies of the teachers with their deaf students. It´s important notions of authors as Dorziat (2004), Libâneo (2001), Sacristán & Pérez (2009), Skliar (2000, 2001, 2013), Bogdan & Biklen (1994). The methodologic is qualitative, characterized as an exploratory case study; this is descriptive and interpretive research. The instruments for collection of information were documentary analysis of the Pedagogical Political Project (PPP), annual math planning and lesson plan, semi-structured interviews and participant observation. The results indicated that the pedagogical practice of the teachers for their deaf students does not allow for critical reflection and insertion of them in social practice. Therefore, it’s necessary to development of a Bilingual Pedagogical Practice (BPP) in the teaching of Mathematics for deaf students.

Keywords. Pedagogical practice, Mathematics teaching, Deafness, Inclusive education.


Introdução


Conceber a escola como lugar de inclusão e as práticas pedagógicas dos professores para o fornecimento no ensino de diversos grupos sociais, parece ser uns dos eixos fundamentais nas pesquisas de educação nos últimos anos, tentando focar e chamar atenção na melhora de políticas e práticas escolares, além de uma reprodução da ordem social: a exclusão.

Então, note-se a importância de conceber a inclusão educativa em nossas escolas. No caso do Brasil o início da inclusão foi influenciado por dois eventos educacionais que discutiram o fracasso escolar e abriram caminho para se [re]-pensar o conceito de educação inclusiva, o qual passou a ser discutido de forma mais sistemática nas atividades educacionais e sociais das escolas de ensino regular. Isto é, que cada aluno tem a possibilidade de aprender, baseado em suas aptidões

Desse modo, Fernandes (2006) evidencia a necessidade de descontruir o estigma do aluno visto como a origem de um problema, ou exigir dele um ajustamento a padrões de normalidade para aprender com os demais, porquanto se precisa a construção coletiva de condições que atendam a diversidade dos alunos, além da não utilização do termo necessidades educacionais especiais, uma vez que todos os alunos formam parte de um plano de trabalho mais amplo de melhoria escolar que retrata a igualdade e a excelência para todos (Ministério da Educação, 2014).

Porém, de maneira contextualizada, vale a pena conceber os alunos surdos em relação à prática pedagógica de professores que ensinam Matemática numa escola de Ensino Médio de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, a fim de identificar as concepções dos professores sobre a prática pedagógica; descrever a compreensão deles sobre a aprendizagem dos alunos surdos e evidenciar quais procedimentos metodológicos utilizavam para ensinar aos educandos surdos.

Portanto, com base em Bogdan e Biklen (1994), a pesquisa define-se como uma abordagem qualitativa, caracterizando-se como um estudo de caso do tipo exploratório, por ser descritiva e interpretativa, com utilização dos seguintes instrumentos para coleta de informações: análise documental do Projeto Político Pedagógico (PPP), planejamento anual de Matemática e plano de aula, entrevista semiestruturada2 e observação participante. Fizeram parte da pesquisa dois professores, denominados Prof. “A” e Prof. “B”.


Prática Pedagógica: O que é?


Compreender que no decorrer do processo histórico, a educação priorizou a inserção de determinados grupos sociais nas escolas, de maneira impositiva, estabelecendo as normas para seleção das pessoas que teriam o direito de ingressar nas instituições escolares; também permite refletir que dentro dessa educação, a prática pedagógica ocupa um lugar relevante, já que deve ser datada e situada, e relacionar prática-teoria, conteúdo-forma e perspectivas interdisciplinares, pois “as práticas educativas não se dão de forma isolada das relações sociais que caracterizam a estrutura econômica e política de uma sociedade, estando subordinadas a interesses sociais, econômicos, políticos e ideológicos de grupos e classes sociais” (Libâneo, 2001, p. 9).

Neste direcionamento, a prática pedagógica é uma prática social, e não é possível pensa-a de uma educação dissociada dos processos sociais, políticos e culturais, os quais impulsionam os debates determinantes sobre a função social da escola na contemporaneidade. Aliás, com as transformações sociais advindas dos avanços tecnológicos e científicos exigem mudanças nas formas de compreender e desenvolver o processo de ensino na escola, a fim de responder às demandas que os contextos históricos lhes impõem, e é função da escola provocar a organização racional da informação fragmentária recebida e a uma transformação das práticas pedagógicas, bem como das funções e atribuições dos professores.

Em virtude desta realidade, para o professor exercer algum papel de agente de transformação social, é importante que ele tenha conhecimento de toda essa complexidade de fatores que influenciam sua prática pedagógica, direcionada por uma intencionalidade consciente, planejada e refletida, e o cotidiano em suas aulas será rompido para pausas de reflexão que determinarão seu fazer pedagógico, pois, como afirma Sacristán e Pérez (2009), “estamos vivendo a lógica da homogeneidade e nos distanciado, cada vez mais, da lógica da diversidade” (p.23).

Em concordância, pode-se afirmar que a prática pedagógica no contexto da sala de aula não pode ser definida, apenas, como um exercício meramente técnico, marcado pelo atendimento às prescrições curriculares, pois, as necessidades práticas que emergem do cotidiano da sala de aula e de outros espaços escolares demandam uma concepção e ação, ou seja, o professor poderá compreender que o ato de ensinar é uma atividade social e historicamente constituída para atender determinados padrões de normatização. Isto é, levantar algumas indagações: o que caracteriza uma prática pedagógica? Como os professores compreendem a prática pedagógica diante do contexto histórico e social? Quais concepções os professores têm sobre a surdez? Quais procedimentos metodológicos seriam adequados para o ensino de Matemática para alunos surdos? Mediante essas definições, compreende-se que a atividade docente é permeada por uma pluralidade de saberes orientados pelos aspectos profissionais, formativos e políticos que interferem na ação do professor em sala de aula.

Assim, o artigo apresenta sucintamente alguns resultados concluídos na pesquisa, a seguir.


Contexto da pesquisa e análise dos resultados


Conforme se discute ao longo do texto, o estudo realizado se propôs a investigar a prática pedagógica de dois professores que ensinam Matemática para alunos surdos, neste caso, numa Escola Estadual de Ensino Médio em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. A análise e os resultados da pesquisa foram constituídos por meio da interpretação das informações coletadas, referentes à análise dos documentos, entrevistas com os professores e observação de doze aulas dos respectivos participantes. Foram construídos, ainda, pela compreensão do objeto de estudo, por meio dos referenciais teóricos e da organização dos resultados obtidos. Ao propor essa discussão, foram estabelecidos três eixos de análise: 1) Proposta pedagógica da escola para ensino de alunos surdos; 2) Concepções epistemológicas sobre a prática pedagógica; e 3) O ensino de Matemática para os alunos surdos.

Para sistematização dos três eixos descritos acima, e visando à organização das informações obtidas durante a pesquisa em campo, foram definidos os seguintes subeixos de análise: 1) Educação Inclusiva; 2) Planejamento; 3) Formação de professores; 4) Avaliação; 5) Ensino de Matemática; e 6) Prática Pedagógica.

Esses subeixos possibilitaram a realização da triangulação dos resultados. Já as informações para a análise foram extraídas dos documentos, das entrevistas e observação participante, instrumentos anteriormente mencionados. Seguem os resultados.

Em relação à proposta pedagógica da escola para ensino de alunos surdos (Eixo 1), a escola não apresenta nenhuma proposta formalmente oficializada nos documentos. As informações coletadas indicam sinteticamente que é disponibilizado atendimento individualizado na sala de recursos multifuncionais para alunos com deficiência e com altas habilidades. Desse modo,

A metodologia será aplicada de acordo com a matriz curricular do ensino regular, fazendo intervenções conforme as limitações e necessidades específicas de cada aluno. Como estratégia principal, será observada a potencialidade de cada estudante e os seus conhecimentos prévios. Os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação recebem apoio individualizado na sala de recursos multifuncionais pelos professores especialistas da área (PPP, 2018, p. 54, grifo meus).

Considera-se que, embora as políticas públicas indiquem a necessidade de adequações curriculares que delineiam propostas, métodos, técnicas, recursos e organizações específicas de forma a atender os alunos surdos, ainda se prioriza a adaptação de um currículo favorecendo apenas ao grupo social dominante. Para além disso, Neves (2011) explica que uma das primeiras barreiras a aparecer no processo de ensino da Matemática é o fato de a Língua de Sinais ainda estar em processo de construção, com muitos símbolos matemáticos que não têm uma equivalência em sinais. Para tanto, destaca-se a necessidade de considerar a presença da linguagem Matemática, que comporta, em sua transposição para a escola, simbologias próprias.

Concernente às concepções epistemológicas sobre a prática pedagógica (Eixo 2), precisa- se à análise de alguns relatos dos professores chamados de “A” e “B” sobre como compreendem o ensino de Matemática na escola, para o aluno surdo. E nesse mesmo raciocínio, compreender o ensino de Matemática para os alunos surdos (Eixo 3), ou seja, quais procedimentos metodológicos utilizam os professores para ensiná-los. A seguir:

Então, eu sempre digo aquele ditado ‘não saber Matemática é confiar no troco’. E a gente sabe que a Matemática está presente na vida da gente em tudo. Para mim, tanto o aluno surdo como o ouvinte precisam ter uma compreensão básica da Matemática e alguns conteúdos são muito abstratos e fica mais difícil para ensinar. E eu evito ensinar só fórmulas para os alunos e busco partir de situação problema. E a partir daí eu entro com conteúdo formal, para mim os alunos surdos e ouvintes precisam compreender a Matemática básica, o desafio é para eu fazer com que a explicação seja mais clara possível para facilitar a compreensão do aluno surdo, porque tem conteúdo que é mais abstrato. Eu exponho uma situação problema do cotidiano, por exemplo, a vazão de uma caixa d’água, e às vezes para eles levarem para resolver em casa e trazer o resultado. E a partir daí eu entro no conteúdo formal e ensino várias estratégias para eles perceberem que não tem só um caminho para chegar na solução (Prof. “A”, 2019, grifo meus).

Eu busco trazer a Matemática do dia a dia para os alunos relacionarem com os conteúdos. É complicado eu falar sobre o ensino de Matemática para aluno surdo, porque eu estou começando agora esse contato. Alguns colegas disseram que existe uma forma diferenciada de trabalhar porque o canal de comunicação do aluno surdo é gestual e visual. E também que as explicações dos conteúdos são traduzidas pelo intérprete de Libras. (Prof. “B”, 2019, grifo meus)

Por consequência, as concepções epistemológicas sobre o ensino de Matemática (Eixo 2) descritas por ambos os professores revelam a atribuição de sentido prático aos conteúdos ensinados, de forma que abranjam o contexto social. O professor “A” demonstra refletir sobre sua prática na intenção de que o ensino esteja acessível e favoreça a aprendizagem do aluno surdo, e a fala do professor “B” também indica um ensino refletido, porém, diante do fato de estar iniciando sua experiência docente com o aluno surdo, parece assegurar o processo de ensino apenas pela mediação do profissional intérprete de Libras. Evidencia-se nos relatos de ambos os professores que as concepções de ensino da Matemática são compreendidas como racionalidade prática. Assim, nesta compreensão da prática há a possibilidade de que o professor reconsidere as ações inerentes à sua atual maneira de pensar, as quais exercem influência prática.

Nesse sentido, note-se que o ensino de Matemática para os alunos surdos (Eixo 3), segundo os relatos dos professores, também desvelam que usam como procedimento metodológico, ensinar desde o cotidiano, ou seja, a partir de uma situação problema que logo seja contrastada com a teoria. Aliás, de introduzir explicações traduzidas pelo intérprete de Libras.

Vale a pena mencionar que, por meio das observações em sala de aula, buscou-se também identificar como os professores interagiam para incluir o aluno no processo de ensino da Matemática. No caso do professor “A”, apesar de não se comunicar em Libras, posicionou-se de frente para este aluno, estabelecendo contato visual, e falava pausadamente, favorecendo a tradução das explicações pelo intérprete. Em contrapartida, o professor “B” direcionou a aula priorizando o ensino para os alunos ouvintes, desconsiderando a presença do aluno surdo.

Os dados revelaram que o professor “A”, mesmo diante da ausência de domínio da Língua de Sinais, possui alguns conhecimentos sobre a necessidade de desenvolver outras formas de comunicação, como condição inicial para a inserção deste aluno no contexto da aula. Deste modo, demonstrou considerar a singularidade deste aluno, assumindo a responsabilidade por seu ensino.

Sob este ponto de vista, Mourão (2009) aponta a urgência de mudança ideológica na forma de compreender os alunos surdos, cujos reflexos serão sentidos na prática pedagógica, e pode ser propiciada por meio de formação teórica e prática, a começar pela Língua de Sinais. Além disso, Nogueira (2013) enfatiza que a educação que visa atender a singularidade humana exige a adoção de ações marcadas pelo conhecimento acerca da diferença e pela determinação em superar eventuais dificuldades dela decorrentes.

Entretanto, a forma como o professor “B” desenvolveu sua prática de ensino indicou que ele não reflete sobre a especificidade do aluno surdo e parece transferir a responsabilidade de ensinar ao intérprete. Neste direcionamento, descreve que o despreparo e o desconhecimento dos professores para lidar com o aluno surdo se dão pelo uso de uma linguagem totalmente oralista no processo de comunicação; ou seja, “na maioria das escolas públicas, onde não há a aceitação da Língua de Sinais [...] o aluno surdo é tratado como se fosse um ouvinte e consequentemente, deve desenvolver a fala” (Lorenzetti, 2003, p. 2).

Assim, infere-se que essa forma de conduzir o ensino pode estar relacionada à ausência de conhecimento básico e/ou formação do respectivo professor (“B”), para trabalhar com tais alunos. Nesse contexto, destaca-se a relevância do respeito pedagógico e das condições singulares destes alunos como uma ação humana e política, de modo que negar a diferença significa negligenciar a própria educação.

Diante essa situação, Arnoldo e Ramos (2008), permitem pensar uma prática pedagógica que se possa adaptar a cada realidade e contexto, a partir de procedimentos metodológicos adequados para o ensino de Matemática para alunos surdos, por exemplo, os autores descrevem: a entrega prévia ao desenvolvimento da aula, de uma pequena síntese das atividades, contendo figuras, desenhos, esquemas, que dariam maior clareza ao que estivesse sendo apresentado no decorrer da aula. Ainda cabe a escrita de esquemas e resumos do conteúdo da aula, pois visualizá- los consistiria em um elemento a mais no processo de ensino e aprendizagem. Ilustra-se, também, a disposição das cadeiras, em forma de semicírculos, pois essa maneira de organização espacial pode possibilitar que todos os alunos visualizem a comunicação em Língua de Sinais, ao mesmo tempo que mantêm a interação com o professor.

Em correlação, segundo Dorziat (2004), os professores precisam conhecer e usar a Língua de Sinais nos ambientes educacionais, mas a simples adoção dessa língua não é suficiente para escolarizar o aluno surdo. Neste aspecto, é importante ressaltar que compreender o aluno surdo é aprender a lidar com as diferentes formas de aprendizagem e de atender as necessidades de milhões de educandos, com as mais variadas especificidades (Skliar, 2000). Além disso, é relevante reconhecer a identidade-cultura surda e suas peculiaridades linguísticas, as ideias, as crenças, os costumes, e os hábitos do povo surdo. Tudo isso deve ser considerado pelos profissionais que trabalham com o bilinguismo (Skliar, 2013; Strobel, 2013).

Certamente, enfatiza-se como primordial que a escola e os professores desenvolvam um olhar diferenciado sobre esses alunos, em função do ensino e aprendizagem, considerando que eles fazem parte de uma minoria linguística e utilizam como canal de comunicação a Língua de Sinais. Isto é, a necessidade de dialogar com a educação bilíngue que constitui um ponto de partida para “uma discussão política sobre as questões de identidades surdas, relações de poder e conhecimento entre surdos e ouvintes, movimentos de resistência dos surdos, ideologias dominantes, discursos hegemônicos, a função da escola e a articulação de políticas públicas” (Skliar, 2001, p. 90-91).

Aliás, é importante também refletir segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais que a Matemática [ainda não é, mas deveria ser] “como uma forma de compreender e atuar no mundo, e o conhecimento gerado nessa área do saber como um fruto da construção humana na sua interação constante com o contexto natural, social e cultural” (Ministério da Educação, 1998: 24), já que a Matemática está próxima da realidade e pode ser abrangida pelo professor em seus contextos de sala de aula.

Nesse aspecto, o desafio é superar a hegemonia do ensino reprodutivista consolidado pelas ideologias dominantes e, para além disso, avançar na construção de uma prática pedagógica que contemple o contexto social, por meio da intencionalidade e criticidade no exercício da docência. Eis [re]pensar/construir a Educação Inclusiva, planejamento, formação de professores, avaliação, ensino de Matemática; e a prática pedagógica. Desse modo, o aluno surdo pode estruturar sua aprendizagem, sua comunicação e sua língua visuoespacial por meio de imagens mentais, através dos processos visuais.


Considerações Finais


Os resultados da pesquisa indicaram que a proposta pedagógica da escola para ensino de alunos surdos não possibilita a reflexão crítica e inserção desses estudantes na prática social. Além disso, as informações apontaram também que, em alguns momentos, os professores transferem a responsabilidade do ensino para o profissional intérprete de Libras. Nesse contexto, infere-se que a ausência de conhecimento específico da Língua de Sinais e procedimentos metodológicos no ensino de Matemática interfere na prática pedagógica desses professores.

Para além disso, ressalta-se a necessidade de rever os currículos das escolas nomeadas inclusivas, no intuito de inserir o ensino da Língua Sinais como disciplina. Neste direcionamento, seria possível desconstruir a cultura dominante excludente entre alunos surdos e seus pares, presente nas instituições educativas, e efetivamente garantir uma sociedade inclusiva.

Sobre as concepções epistemológicas sobre a prática pedagógica revela-se a atribuição de sentido prático aos conteúdos ensinados, de forma que abranja o contexto social, cultural- identitários e peculiaridades linguísticas dos estudantes surdos. Assim não é suficiente o conhecimento específico da Matemática, mais também, construir e fornecer metodologias para desenvolvimento de uma prática pedagógica direcionada ao aluno surdo e sua especificidade.

Em relação com o ensino de Matemática para os alunos surdos, torna-se necessária, ainda mais, reflexão para a elaboração de um planejamento refletido, que possibilite a interação e construção de conhecimentos deste aluno. Vale a pena [re]pensar-construir a Educação Inclusiva e dialogar a sua vez, com a Educação Bilíngue que permita abrir caminhos de comunicação e políticas de ensino direcionado ao aluno surdo, considerando que a Matemática possui uma linguagem própria e contém termos que não são traduzidos em sinais específicos pela Língua de Sinais (logaritmos, matrizes, funções); assim, o professor é o mediador do conhecimento matemático e deve contribuir para que os alunos surdos construam conhecimentos críticos para sua transformação social.


Referências


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